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PESCADORES PELO FUTURO: CAPACITAR PARA A DEFESA DO NOSSO BEM COMUM

Mais capacitados, comprometidos, envolvidos e atuantes - assim são os“Pescadores pelo Futuro”, a comunidade piscatória do Baixo Estuário do Tejo queparticipou no projeto com o mesmo nome promovido pela ANP|WWF e que encerra hoje em Almada.

Decorre hoje, em Almada, o fórum final do projeto “Pescadores pelo Futuro - Literacia para Pescadores”, uma iniciativa da ANP|WWF financiada pelo EEA Grants, no âmbito do programa Crescimento Azul. Neste evento serão apresentados os principais resultados do projeto, debatidos os desafios encontrados no terreno e as soluções propostas pelos vários intervenientes, e será apresentado o “Guia de Formação - Pescadores pelo Futuro”, um documento orientador que se destina a todos os que pretendam trabalhar a capacitação ao nível
das comunidades piscatórias.

Com cerca de 3600 pescadores a operar na zona do Estuário, o projeto “Pescadores pelo Futuro”
teve como foco a co criação e implementação de um plano formativo, complementar às aprendizagens formais, para o empoderamento e capacitação das comunidades piscatórias do Baixo estuário do Tejo, um dos maiores estuários da Europa ocidental e que desempenha um papel crucial na conservação da biodiversidade e no bem-estar das pessoas que vivem à sua volta. O projeto primou pela ligação em rede e promoção de um diálogo aberto entre pescadores e vários stakeholders - da administração à academia, passando pelos centros de investigação, cadeias de abastecimento e todos os que dependem dos recursos fornecidos pelas pescas. O Guia de formação é um instrumento que, quando aplicado ao longo do tempo e com aproximação à
comunidade, visa o empoderamento dos pescadores tornando-os agentes de mudança na defesa
do oceano.

Como explica Rita Sá, coordenadora do Programa de Oceanos e Pescas da ANP|WWF: “As
comunidades piscatórias têm um conhecimento muito próprio e aprofundado sobre as espécies que
exploram, os habitats onde andam, as alterações do dia a dia. Mas, neste projeto, os próprios
pescadores identificaram áreas em que precisam de ter mais know-how para que se tornem
pescadores mais capacitados. Quer isto dizer que além da experiência, precisam de ter acesso a
ferramentas como literacia digital, gestão e empreendedorismo, associativismo e entendimento dos
processos burocráticos para conseguirem exercer a sua atividade com outra capacidade, mais
sustentável”.

“A educação ambiental em Portugal tem-se focado particularmente em crianças e jovens”, como
refere Cátia Nunes, coordenadora de Educação Ambiental da ANP|WWF e responsável pelo
projeto. “Aplicar a educação ambiental a comunidades de adultos que trabalham na natureza foi um
dos fatores inovadores e impactantes deste projeto. Percebemos que os pescadores sentem
necessidade de ver o seu trabalho mais divulgado e reconhecido, com alguns a proporem, inclusivamente, a criação de um dia aberto à comunidade - uma oportunidade para as pessoas irem ao porto ver a preparação em terra das saídas para o mar, aprenderem a fazer redes, cozinhar em conjunto, e perceberem o que é um dia na vida destes profissionais”.

Como público-alvo foram selecionadas 5 comunidades no Baixo estuário do Tejo que foram
agrupadas, nas zonas de Barreiro, Cacilhas-Trafaria, e Cascais-Oeiras. Do trabalho realizado em
parceria com os pescadores e diversas entidades interessadas, que incluiu o mapeamento inicial
das necessidades e expectativas e a sinalização de problemas concretos, conceberam-se as bases
de uma formação em 5 módulos com uma duração total de 20 horas adaptada à vivência dos
profissionais e às carências desta área de negócio. Como os módulos foram criados em
brainstorming, os temas demonstraram graus de relevância diferentes para cada uma das
comunidades, pelo que nem todos os conteúdos foram aplicados à totalidade de formandos,
permitindo que cada participante se dedicasse ao que realmente lhe interessava.

A escolha geográfica do Estuário do Tejo para concretização da iniciativa teve que ver com o facto
de este ser um dos mais importantes estuários nacionais, como refere Rita Sá: “Não nos
apercebemos do quão dependentes estamos da saúde deste estuário, que é um local com grande
pressão humana. Para termos saúde, o estuário também tem de estar saudável. Apesar de muita
gente estudar o estuário há longo tempo, não há um conhecimento integrado. Quem sabe o dia a dia
desta zona são os pescadores - as espécies diferentes que aparecem, e são os que nos podem dar
mais conhecimento e alertas sobre um estuário do qual dependemos tanto”.

Não é a primeira vez que a ANP|WWF navega estas águas. Desde 2021 que a ONG virou a sua
atenção para a zona do Estuário do Tejo, onde atualmente tem um Observatório de Golfinhos na
Torre VTS, empenhando-se em contribuir para uma maior recolha do conhecimento evolutivo
daquele que é um dos mais biodiversificados estuários europeus. Para dar continuidade a este tipo
de projetos com os pescadores, a organização aponta a necessidade de mais tempo e mais
recursos humanos e financeiros, já que, segundo Cátia Nunes, é “um trabalho que exige muita
disponibilidade para se criarem ligações de confiança, mostrando aos pescadores que benefícios
obtêm com o facto de gastarem do seu tempo participando nestas ações”.

Uma intervenção de fundo que, como explica Rita Sá, não apresenta resultados imediatos:
“conseguimos perceber que, a partir do momento em que cooperamos com as comunidades para
perceber o que elas enfrentam, elas se tornam mais empoderadas, passam a ter uma voz mais
forte, com mais consciência face aos problemas e face ao seu papel na defesa do meio que
exploram”. Não será demais dizer que “os pescadores, ao assumirem este papel, se tornam uma
espécie de guardiões do estuário do Tejo e, por conseguinte, guardiões de todos nós”, acrescenta.
“A ANP|WWF gostaria que este trabalho pudesse ser alargado a outros locais, para que as
comunidades piscatórias fortaleçam a sua atuação de maneira informada”, refere ainda a
coordenadora de Oceanos da Associação.

Para a ANP|WWF o projeto “Pescadores pelo Futuro” foi extremamente enriquecedor, finaliza Cátia
Nunes, “não só porque se focou numa comunidade ainda pouco trabalhada como pela promoção
de uma reflexão estratégica conjunta perante desafios comuns. Os resultados obtidos com o projeto
podem ser exemplo para outros países com populações piscatórias fortes”, o que é, só por si, uma
pegada muito positiva.

Vídeo: https://youtu.be/xXy9byFvo-Q

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