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CARTA ABERTA

Travar em terra o lixo que vai parar ao mar: 8 medidas necessárias e urgentes

© Shutterstock / Rich Carey / WWF
© ANP|WWF
Carta Aberta: Logos ONGs e de movimentos cidadãos

Exmo. Sr. Ministro do Ambiente e Ação Climática
Eng. João Pedro Matos Fernandes

Cc: 
Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva
Ministro de Estado, da Economia e da Transição Digital, Pedro Siza Vieira
Ministro do Mar, Ricardo Serrão Santos

26 de outubro de 2021

 
Travar em terra o lixo que vai parar ao mar: 8 medidas necessárias e urgentes

Somos um grupo de 29 ONGs e movimentos de cidadãos que há muito procuram sensibilizar as autoridades e cidadãos para o problema do lixo marinho. E como tal não quisemos deixar de partilhar consigo a nossa preocupação comum: travar em terra o lixo que acaba no mar.

Sabemos, tal como o Sr. Ministro, que o lixo marinho que recolhemos nas nossas praias é uma ínfima parte daquele que diariamente vai parar ao mar - levado pelo vento, marés, correntes e rios e pelas tantas embarcações que cruzam as nossas águas. 

O lixo que dá à nossa costa é apenas a “ponta deste icebergue” que globalmente alimentamos há décadas com os nossos modelos de produção e de consumo. Mas tal como demorou muitas décadas para que tanto lixo fosse parar ao mar, também demorará muitas décadas para que uma pequena parte possa ser retirado, já que a maior parte se vai degradando e integrando a nossa cadeia alimentar sob a forma de microplásticos. 

Por isso não chega retirar água da banheira com um copo; é preciso fechar a torneira.

Para fechar a torneira ao lixo (maioritariamente) gerado em terra, precisamos de consumir muito menos produtos descartáveis, reutilizar mais os produtos e recolher muito mais materiais para serem reciclados. Só prolongando a vida útil dos produtos poderemos reduzir a quantidade que precisamos no dia-a-dia.

Portugal tem dado alguns passos que contribuem para reduzir a entrada de resíduos na natureza, incluindo no mar, como a taxa sobre sacos nos supermercados ou a proibição (ainda que atrasada) de colocação no mercado de vários produtos de plástico de uso único (cotonetes, talheres, etc.) a partir de 1 de novembro.

No entanto, as políticas e legislação que o seu Ministério tem aprovado sobre gestão de resíduos, plásticos descartáveis, reutilização, responsabilidade alargada do produtor, etc., são claramente insuficientes. Muitas, de eficácia comprovada, foram aligeiradas ou adiadas a pretexto da pandemia, atrasando ainda mais o nosso país nesta matéria.

Por isso, juntos, estes 29 ONGs e movimentos de cidadãos apelam a que o Ministério que dirige implemente as seguintes medidas:
 
  1. Defina metas legalmente vinculativas mais ambiciosas do que as atuais para a reutilização de embalagens. Queremos que, até 2030, 30% de todas as embalagens colocadas anualmente no mercado sejam reutilizáveis.
  2. Regulamente o sistema de depósito com retorno para embalagens de bebidas descartáveis até ao final do ano. Só assim este poderá iniciar o seu funcionamento a 1 de janeiro de 2023 para todos os materiais (vidro, alumínio, plástico, metais ferrosos), contribuindo assim para melhorias enormes nas taxas de recolha e de reciclagem e prevenção do abandono de resíduos no ambiente.
  3. Alargue a aplicação dos objetivos de redução definidos aquando da transposição da Diretiva sobre Plásticos de Uso Único para Portugal aos copos de bebidas e recipientes para alimentos feitos de outros materiais descartáveis. No contexto atual, os objetivos de redução não abrangem produtos descartáveis de todo o tipo de materiais, incentivando a substituição de materiais sem que haja uma redução significativa de produtos descartáveis.
  4. Crie regimes de responsabilidade alargada do produtor (RAP) nas áreas do tabaco, artes de pesca, toalhetes ou balões, como previsto na referida Diretiva, pois trata-se de uma ferramenta fundamental para que os produtores assumam as suas responsabilidades sobre o que colocam no mercado e as efetivas consequências ambientais negativas que daí resultam.
  5. Reforce os regimes de RAP já existentes, no sentido destes incorporarem objetivos específicos de prevenção e reutilização (autónomos), para além dos objetivos já habituais de reciclagem.
  6. Estabeleça metas de prevenção de produção de resíduos têxteis sanitários (fraldas e produtos menstruais), conjugadas com apoios específicos a projetos de informação/capacitação para o uso de produtos menstruais e fraldas reutilizáveis e de apoio à aquisição das opções reutilizáveis.
  7. Apoie, através do Fundo Ambiental, a criação de soluções de reutilização partilhadas por diferentes agentes dentro do mesmo setor, por exemplo, recipientes reutilizáveis para take away/pronto a comer ou a normalização (estabelecimento de standards) de embalagens reutilizáveis de bebidas.
  8. Faça repercutir sobre quem coloca as embalagens de plástico no mercado a totalidade da taxa europeia aplicável à percentagem de embalagens de plástico não recicladas a cada ano em Portugal (que será de 800€/tonelada não reciclada).

Sabemos que a implementação destas medidas não depende exclusivamente do seu Ministério. O Ministério da Economia e Transição Digital, por ser quem regula as atividades económicas, e o Ministério do Mar, que lida a jusante com os problemas criados em terra, têm sem dúvida uma palavra a dizer também. O Ministério dos Negócios Estrangeiros também certamente beneficiará de um maior alinhamento entre o que Portugal faça entre portas para prevenir em terra o lixo que vai parar ao mar, e o seu papel de anfitrião e co-organizador da Conferência das Nações Unidas sobre os Oceanos em junho de 2022. 

Mas é sob a sua liderança, Sr. Ministro do Ambiente e Ação Climática, que Portugal e o governo que integra poderão deixar uma marca francamente mais positiva no ambiente que é de todos. Tanto em terra como no mar.

Como cidadão, certamente que, tal como a nós, não lhe agrada ver lixo a dar à costa. Como Ministro, está nas suas mãos impedir que isso continue a acontecer.

Com os nossos melhores cumprimentos,

As 29 organizações e movimentos locais abaixo mencionados

A ROCHA
AIMM Portugal - Associação para Investigação do Meio Marinho
AmbientalIST
Ana Pêgo - Projecto Plasticus maritimus
ANP|WWF - Associação Natureza Portugal, em associação com a WWF
Associação Bandeira Azul da Europa
Associação Arroz de Polvo
Associação de Defesa do Paul de Tornada - PATO
Associação Escravos da Cadeínha
Associação Oceanos Sem Plásticos
Associação SEI Portugal
Associação World Needs
Clube Náutico e Ambiental do Neiva
Ensaios e Diálogos Associação
GEOTA - Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente
LinDoMar, grupo informal de cidadãos da Foz do Arelho
Mar à Deriva - Adrift Sea
Movimento Sem Palhinhas
NEON JOYRIDE
Ocean Alive
Ocean Hub Portugal 
OPAA - OCEAN PATROL ASSOCIATION, Conservation & Sustainability
Sailors for the Sea Portugal
Sciaena - Oceanos # Conservação # Sensibilização
SOMAR - Associação de Conservação Marinha e Bioacústica
Teia D'Impulsos
The Climate Reality Project — Equipa em Portugal
Zero - Associação Sistema Terrestre Sustentável
Zero Waste Lab